Sempre me preocupei, lendo esses versículos, com o que eu considerava uma redundância: o uso dos termos “ladrões” e “roubadores”. Hoje decidi pesquisar, pensar, orar e pedir a Deus o esclarecimento, uma vez que a sentença é fatídica: “não herdarão o reino de Deus”.
O dicionário diz que ladrão “é o indivíduo que rouba”; roubador “é aquele que pratica o roubo” e trapaceiro é “aquele que faz trapaças, trampolineiro, finório, velhaco, espertalhão, embusteiro”. Roubar é “apropriar-se de bens pertencentes a outrem, mediante ameaça ou violência; raptar; seqüestrar”.
Se as palavras “ladrão” e “roubador” significam a mesma coisa, porque teriam sido colocados os dois termos num mesmo versículo? Talvez a tradução para “trapaceiro” ou “embusteiro” seja a mais apropriada em comparação a “ladrão”. O que sei é que nada na Bíblia consta por acaso.
Efetuando algumas pesquisas, cheguei a algumas conclusões:
- O termo “ladrão”, que tanto pode ser substantivo (ex.: “o ladrão entrou na casa furtivamente”) como adjetivo (ex.: “aquele rapaz é um ladrão”), representa aquilo que a pessoa é: um ladrão, da mesma forma que dizemos que as pessoas são aquilo que elas fazem ou se tornam: um médico, uma costureira, um viciado, por exemplo. O ladrão é aquele que rouba premeditadamente, que planeja o roubo, que vive do roubo, que se dedica à atividade do roubo. Ele toma o que não é seu de forma furtiva ou mediante a violência e todos o chamam de “ladrão”.
- O termo “roubador” pode ser apenas um adjetivo (ex.: “fulano avalizou para o sicrano, sem saber que fosse um roubador”). O roubador tem profissão, exerce atividades que não sejam exatamente o roubo, mas ele se apropria do que não é seu, de forma premeditada ou apenas por descuido. Quando o Senhor Deus, no livro do profeta Malaquias, fala ao povo acerca dos dízimos, o termo hebraico correspondente no grego é “roubador” e não “ladrão” (Ml 3.8). Deus chama o povo de “filhos de Jacó” (substantivo), no v.6, mas o adjetivo correspondente no contexto é “roubador”. Ao reter os dízimos e ofertas, o povo está se apropriando daquilo que pertence ao Senhor.
Ser “roubador” é muito mais terrível do que ser “ladrão”. O ladrão é marginalizado, é preso, condenado, muitas vezes até linchado. O ladrão toma apenas o que é material. Se, porventura, durante o ato do roubo ele praticar um homicídio, além de ladrão ele passa a ser chamado de homicida. Ou seja, torna-se ladrão e roubador: apropria-se do material e rouba a vida.
O roubador vai além: toma o material e rouba também a moral, a boa fama, a saúde e outros bens de pessoas que são, geralmente, do bem. Os políticos corruptos, por exemplo, são pessoas de renome, recebem salários, aparecem na mídia, mas se tornam roubadores quando praticam a propina, beneficiam sua parentela e cobram por apoios ao governo. Toda apropriação indébita torna o indivíduo um “roubador”.
Existem muitas formas de o indivíduo se tornar um roubador:
- quando pede que alguém o avalize em algum contrato e não paga em dia (ou, simplesmente, não paga), obrigando aquele que o beneficiou com sinceridade a pagar suas contas para não ter o nome sujo na praça;
- quando empresta folhas de cheque para alguma transação e não cobre esses cheques, deixando quem o ajudou com amor em situações difíceis, quando não deprimentes;
- quando empresta com promessas de devolução e não as cumpre;
- quando se apropria de algo que não é seu: um livro, cd, dvd, utensílio ou qualquer bem que foi emprestado e não foi devolvido;
- quando compra e não paga, apropriando-se daquilo que representa o ganha-pão do seu próximo;
- quando, prestando serviços, cobra por materiais de primeira e usa de segunda, quando não de terceira;
- quando recebe por um serviço e não o executa ou não o conclui;
- quando rouba horas de trabalho, faltando sem necessidades, engabelando seus empregadores, mentindo para faltar ou atrasar;
- quando não administra bem suas contas e vive pedindo ofertas e ajudas para pessoas de boa fé;
- quando gasta o salário de outros, ficando além do necessário ao telefone, no chuveiro, desperdiçando comida, estragando bens que não adquiriu;
- quando destruiu o bem de terceiros e não os ressarciu (ao provocar uma batida de carro ou moto, por exemplo);
- quando rouba a boa moral, a boa fama, sem provas, por despeito, ciúmes, inveja ou sem necessidades;
- quando adultera, roubando a paz, a confiança, a alegria e até a saúde de seu cônjuge;
- quando, por maldade ou má postura, rouba a saúde de pessoas que o amam;
- a Bíblia ainda vai além, quando chama o falso pastor, o mercenário, o que prega o evangelho apenas por interesse, de “ladrão” que vem para “roubar, matar e destruir”, Jo 10.10. No contexto, Jesus não está falando do diabo, mas dos falsos obreiros, Jo 10. Muitos profetizam apenas para aqueles que o beneficiam materialmente, roubando as palavras do Senhor àqueles que dela necessitam, Jr 23.30. Outros profetizam por interesse, para receberem convites e serem engrandecidos, Nm 22.17.
Esta é apenas uma pequena lista para exemplificar as muitas formas de alguém, que não tem por profissão ou por entretenimento perigoso o ser ladrão, mas se torna um roubador. Existem muitas pessoas que exercem cargos, funções importantes, até pregam a Palavra e se dedicam à vida piedosa da oração e jejum, mas são desordenadas, descuidadas e sem temor, lesando outras que confiaram nelas.
Infelizmente a sentença já está dada: os que praticam tais coisas “não herdarão o reino dos céus”. Herdar é receber por herança um bem de alguém que já morreu. O Senhor Jesus morreu para nos dar o reino dos céus e nos reconciliar com Deus. Se o desejamos, precisamos atentar para as Escrituras e buscar, com zelo e afinco, a libertação dos maus costumes. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará... se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”, Jo 8.32,36.
A Bíblia chama ao conserto no dia que se chama “hoje”, porque o amanhã não nos pertence, Hb 3.7,15; Ef 4.28. O Senhor pode e quer operar a libertação do jugo que pesa sobre os ombros dos “roubadores”, garantindo-lhes a posse da herança com aqueles que irão morar no céu.
Estudo feito por Ev. Alaid S. Schimidt
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