Para definir a espiritualidade cristã, precisamos antes, saber a origem da palavra espiritualidade e seu uso em nossos dias. Chama-se espiritualidade, a ação do Espírito Santo na vida humana e no cosmos. É o Espírito que pairava sobre as águas, cf. Gn 1 e que continua agindo em vários momentos da história da salvação. O mesmo Espírito está presente no batismo e no início da missão de Jesus Cristo, cf. se vê nos Evangelhos. É o Espírito que é derramado sobre os discípulos de Cristo após a ressurreição e sobre a comunidade, no dia de Pentecostes (Atos 2).
Espiritualidade tem a ver com o Espírito de Deus revelado em Jesus e dado a nós como o “paraklitós”, defensor, animador, luz, advogado, consolador, alguém que está constantemente cuidando do povo de Deus para que faça a vontade de Deus e seja aperfeiçoado segundo a Palavra de Deus. Espiritualidade é tudo o que está no coração do homem, que o leva a buscar a Deus, a adorar a Deus, a se animar nas lutas da vida e se fortalecer na esperança da eternidade.
Jesus, como homem, buscava alcançar a perfeição da espiritualidade, buscando ao Pai em vigílias, no secreto da oração. Revestido, Ele demonstrava a sua espiritualidade em benefícios para com as multidões famintas, doentes, possessas, desanimadas, carregadas de pecado. Espiritualidade, então, tem a ver com o serviço cristão. A pessoa espiritual não age segundo a carne, mas segundo o Espírito.
A espiritualidade se sustenta numa experiência ascética, porém real e equilibrada, de dedicação a Deus. Há alguns que entendem por espiritualidade, somente os momentos dedicados “no monte”. Esta, tende a ser transitória, passageira, pois a pessoa depende de “fazer” para sentir que é verdadeiramente cristã. Já outros, entendem que a verdadeira espiritualidade nega a experiência da verdadeira transcendência, do encontro real com Deus. Esta, tende a ser uma pseudoespiritualidade, pois admite que não precisa “ter experiência” para “ser espiritual”. Nem um extremo, nem o outro.
Ser espiritual não é depender de emoções, mas também não é ser frio no tocante a experiências transcendentais. Jesus deu essa lição a Pedro, no Monte da Transfiguração, Mt 17. Ir ao monte, para receber a revelação maravilhosa da pessoa de Jesus, mas não ficar no monte, pois há muito serviço no vale: um pai desesperado os aguardava ao pé do monte, desejando a libertação do filho adolescente, que era possuído por demônios terríveis.
Jesus não queria que a espiritualidade dos discípulos se baseasse no conforto produzido por um momento de êxtase, o que poderia criar neles uma falsa experiência. Revisitar o vale, era o mesmo que dizer que, junto com o deslumbramento da manifestação divina na vida do crente, tem que haver o encontro com o natural, uma conexão racional entre o sagrado com o humano, o transcendente com o imanente.
Mas temos que admitir: em nossos dias existe uma busca frenética por espiritualidade. Depois do “racionalismo” de Descartes e da “Inteligência Emocional” de Goleman, o tema recorrente nos dias atuais é “Inteligência Espiritual”. Daí então, espiritualidade vem a se confundir com espiritualismo, ou seja, doutrinas religiosas espíritas. No Brasil tem crescido o número de empresas e entidades que contratam de teólogos a mães de santo, para discorrerem sobre o tema da espiritualidade. Surge, então, a confusão de termos: o que muitos estão chamando de “espiritualidade”, não passa de um misticismo oco, desprovido de sentido e de coerência.
Por exemplo, a espiritualidade contemporânea se confunde com a fé mágica: despachos, uso de fitas, amuletos, dízimos e correntes de fé. Nada contrário ao dízimo nem às correntes de fé, se a confiança estiver firmada em Deus. Mas as pessoas, colocam sua confiança no dízimo que dão, num sistema de “toma-lá-dá-cá”, negociando com Deus. Aquilo que deveria ser feito com amor pela obra e a pessoa de Deus, fazem esperando recompensas terrenas. E as correntes? Fazem votos de participar de tantos cultos, em prol de uma bênção, quando deveriam participar de todos os cultos, porque fazem parte do corpo de Cristo e o papel do crente é adorar a Deus.
Uma espiritualidade que funciona como válvula de escape, como manipulação mágica da realidade e como desculpa para a transferência de responsabilidade não pode ser considerada caminho para a felicidades, mas apenas rota de fuga e de alienação, cujo resultado é a escravidão (da qual, aliás, a pessoa nunca se libertou, apenas teve suas correntes afrouxadas por um tempo).
A verdadeira espiritualidade, segundo o Pr. Daniel Costa (www.betaninha.org.br), diz que a verdadeira espiritualidade é desinteressada e absolutamente relacional, fomentando o compromisso, o amor, a amizade, a esperança, a alegria, a santidade e a paz. Segundo o Sl 84, a alma humana, em sua busca e sede de amor e prazer, encontra toda suficiência em Deus. Em segundo lugar, ele diz que a verdadeira espiritualidade oferece ao homem uma relação de significado e valor e respeito por si e pelos outros, por meio do seu relacionamento com Deus. E, por fim, a espiritualidade é verdadeira quando capacita e habilita o crente, aumentando a sua força de vontade e a sua perseverança em servir ao Senhor.
Por meio da espiritualidade, ele diz que as pessoas ganham retidão no seu caráter, têm os seus caminhos aplanados, ganham relação de diálogo e um lugar de fala e escuta, que é a oração com Deus presente. Além do mais, a pessoa alcança segurança e conforto para viver dignamente. A busca espiritual redunda em benefícios materiais, físicos, mentais e capacitação para o serviço cristão, além de um melhor desempenho em família e na sociedade em geral.
Por Ev. Alaid S. Schimidt
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