Quando Deus fez o homem, estabeleceu com ele um pacto, chamado pela teologia de Pacto das Obras, pois nele o homem teria que fazer algo para conquistar a vida eterna. Esse pacto é nitidamente percebido nas palavras de Gn 2:17: “... mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás: porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. A obra que Adão teria que realizar era apenas obedecer à ordem do Senhor. A palavra “morte” neste texto se refere ao seu sentido mais amplo; por outro lado, pela obediência de Adão, a “vida” seria em seu sentido mais profundo: vida eterna.
A vida eterna, bem como a morte eterna estava condicionalmente no poder de Adão. Adão era sem pecado e tinha comunhão com Deus. Sua relação pessoal com Deus era mais direta do que depois da sua queda. Não havia necessidade de mediador. Adão era seu próprio mediador, pois ele, sem pecado, tinha aptidão exigida pela Lei divina para entrar num relacionamento pactual com Deus.
Existem algumas conclusões que os estudiosos chegam à questão de por que Deus, ao criar o homem, não lhe deu logo a garantia de vida eterna sem que houvesse a necessidade de um pacto. A primeira conclusão verificada é que aprouve a Deus, em sua soberania, decidir garantir a vida eterna ao homem por meio de um pacto. Deus garantiria a vida eterna ao homem e ele obedeceria à sua ordem. Comer todos os dias da árvore da vida o manteria em longevidade e eternidade; comer da árvore da ciência do bem e do mal lhe traria a morte. A dádiva divina dependia da obediência humana.
A segunda razão pela qual Deus firmou o direito da vida eterna ao homem na base de um pacto foi a garantia de ter criado um ser livre (não no sentido da livre vontade de Deus, ou seja, Adão gozava de uma liberdade, mas nunca era tão livre o quanto Deus é em sua santa vontade). Criando o homem como um ser livre, e tendo este o poder de escolher o contrário da ordem de Deus, Ele estaria também criando a possibilidade de uma queda, logo, o próprio Deus assegurou o direito da vida eterna na base de um pacto.
Terceiro, como diz Lee Irons (citado por Rev. Moisés C. Bezerril - www.ipb.org.br): “Imagine o que aconteceria se Deus não tivesse entrado em acordo com Adão, mas simplesmente tivesse exigido obediência perpétua sem uma promessa de vida eterna. Só haveria duas opções para ele. Ou ele poderia desobedecer a Deus e entrar em juízo (morte) ou continuar simplesmente obedecendo. Mas a qualquer momento ele poderia ser capaz de cair. Ele poderia permanecer nesse estado de integridade indefinidamente. Mas isso seria tudo. Mesmo depois de milhões de anos, ele ainda estaria sob ‘teste’. Ele jamais poderia ter um relacionamento confirmado com uma vida à qual ele jamais perderia o direito. Não haveria perspectivas seguras para Adão! Somente o infinito potencial para cair”.
Diante do exposto, chegamos à doutrina do livre arbítrio. Se a Adão, ao ser criado, lhe fosse imposta uma condição de vida eterna, podando-lhe toda possibilidade de escolha, onde estaria o seu livre arbítrio? Além da escolha voluntária e racional do homem, o pacto não teria para ele nenhuma vantagem, se não houvesse condições de escolha. Adão seria apenas uma máquina incapaz de se relacionar com Deus, pois toda relação pessoal implica em uso da livre vontade.
Deus não criou uma máquina programada para pecar, mas um homem livre para decidir não pecar, ou seja, Deus formou o homem com plena capacidade de decisão e com ampla responsabilidade pelos seus atos. A maior prova da liberdade de Adão no Pacto das Obras fora a sua culpa pela desobediência. A culpa condenatória só se estabelece se admitirmos certo grau de liberdade existente no infrator. Que Deus seria esse que condenasse o homem sem que este não tivesse um mínimo de liberdade que justificasse a sua culpa? A ira de Deus que recai sobre o pecador não conta apenas o pecado de Adão, mas também os pecados atuais do pecador. Essa ira somente é cabível se for entendida à luz de uma soberba obstinada, com liberdade para praticar a vontade da carne.
Tiago, em sua epístola, nos dá uma visão de como a tentação é gerada: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”, 1.13-15.
Se a provação vem de uma pressão externa, a tentação, por sua vez, é de origem interna. A provação é exógena, ela vem de fora para tentar o homem a pecar, como fez Satanás com Eva e esta com Adão; a tentação, todavia, é endógena, ela vem do interior do homem, fruto da sua cobiça. Portanto, quando a tentação se manifesta, cabe ao homem um momento de escolha e decisão: ou ele decide vencer a tentação, como Cristo o fez no deserto, Mt 4.1-11, ou ele decide aceitá-la e assumir as conseqüências da sua escolha.
Enfim, Deus jamais aceitaria que o homem permanecesse ao seu lado somente por imposição; ele teria que o fazer por amor. As Escrituras, em toda a sua essência, demonstram um Deus cheio de amor oferecendo ao homem oportunidades de comunhão, relacionamento íntimo e obediência, esperando que, numa atitude consciente e de boa vontade, o homem volte para Ele com o mesmo amor, desejando essa comunhão e intimidade com Ele.
Feito por Ev. Alaid S. Schimidt
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