Escatologia vem do grego, eschatos, “último”, e logos, “assunto”, ou seja, “a doutrina das últimas coisas”. A escatologia bíblica diz respeito não apenas ao destino do indivíduo, mas também se preocupa com a história. Isso se deve ao caráter particular da revela¬ção da Bíblia. Deus não somente se revela por meio de homens divinamente movidos, mas também em e mediante os acontecimen¬tos da história redentiva, o mais importante da qual é o advento e a vida de Seu Filho, Jesus Cristo. Além disso, o conteúdo dessa revelação não se limita às verdades acerca do caráter e dos propósitos de Deus, mas inclui igualmente Suas ações redentoras na história, bem como a Palavra de Deus inspirada, que interpreta a significação dessas ações. Visto que Deus é o Senhor da história, a consumação da obra redentora de Deus, incluirá a redenção da própria história.
Dentro da perspectiva do V.T., os profetas olhavam para o dia futuro, quando o Deus de Israel, que repetidamente visitou Seu povo na História, visitá-los-á fi¬nalmente a fim de julgar os ímpios, redimir os justos, e expurgar a terra de todo o mal. “O dia do Senhor” e a frase abreviada “na-quele dia” designam essa divina visitação e salientam a sua qualidade, e não tanto o tempo de sua ocorrência. Por conseguinte, “o dia do Senhor” denota tanto as visitações divinas na história (Am 5:18; Jl 1:15), como também a visitação escatológica final (Jl 3:14,18; Sf 3:11,16; Zc 14:9). “Nos últimos dias” Deus virá para estabelecer o Seu reino (Is 2:2-4; Os 3:5).
Diversas personagens messiânicas apare¬cem na esperança exibida pelo Antigo Testa¬mento: um rei davídico (Is 9:6,7; 11:1 e segs.; Jr 23:5,6), um celestial Filho do ho¬mem (Dn 7:13,14), e um servo sofredor (Is 53); mas freqüentemente é o próprio Deus que virá para redimir o Seu povo (Is 26:21; Jl 3:16; Zc 14:5; Ml 3:1,2).
O Novo Testamento vê, na encarnação de Cristo, o cumprimento da esperança do Antigo Testamento, e em Sua segunda vinda a consumação dessa esperança. Aquilo que o Antigo Testamento antecipa em um dia de visitação, no Novo Testamento é reali¬zado em dois dias. O cumprimento e a con¬sumação são duas partes de uma única obra redentora. Apesar de que a nota de cumprimento é freqüentemente soada (Lc 4:18-21; Mt 11:4,5; 13:16,17; Lc 10:23,24), a consumação permanece no Novo Testamento como acontecimento futuro. Portanto, a obra histórica de Cristo é uma obra es¬catológica, e as bênçãos que Ele conferiu são bênçãos escatológicas. No Novo Testa¬mento há uma escatologia “realizada”.
A vida, morte e ressurreição de Cristo inaugurou o cumprimento messiânico, ainda que numa forma não anteriormente anteci¬pada. “Os últimos dias”, que testemunharão o estabelecimento do reino de Deus (Is 2:2-4; Os 3:5), estão atualmente presentes (Hb 1:2). A promessa escatológica sobre o der¬ramamento do Espírito (Jl 2:28; Ez 36:27) já ocorreu nesses últimos dias (At 2:16,17). Entretanto, a era vindoura continua sendo reputada como o tempo da consumação do reino de Deus (Mc 10:25,30), e por todo o Novo Testamento permanece como objeto de esperança (Mt 12:32; Lc 20:35; Jo 12:25; Ef 1:21), embora seus poderes possam ser experimentados em certa medida aqui e agora (Hb 6:5). O dia da consumação é necessário para levar até a sua consumação as bênçãos escatológicas que agora são expe¬rimentadas apenas em parte. Assim sendo, os acontecimentos que farão parte da segun¬da vinda de Cristo não representam algo novo. Aquilo que Cristo realizou mediante a Sua morte e ressurreição, será levado à sua consumação pela Sua vinda gloriosa.
Os mitos retratam freqüentemente o fim do mundo como uma grande destruição, de natureza bélica ou cósmica. Antes da destruição, surge um messias (“ungido”) ou salvador, que resgata os eleitos por Deus. Esse salvador pode ser o próprio ancestral do povo ou fundador da sociedade, que empreende uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, inaugura um novo estágio da criação, um novo céu e uma nova terra. Nós, os cristãos, cremos firmemente, baseados na Palavra de Deus, que Cristo é esse Salvador, que foi morto desde a fundação do mundo, Ap 13:8, o qual derrotará Satanás após o Milênio e finalmente destruirá o mal e instalará o Seu reino eterno, os novos céus e nova terra, conforme a Bíblia nos mostra. A Sua morte foi predita, consumada e suficiente para redimir os pecadores e garantir-lhes o direito ao reino dos céus. Por meio do Seu sangue, também derramado “desde a fundação do mundo”, 1 Pe 1:18-23.
Por Ev. Alaid S. Schimidt
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